04/05/2025

Robert Steuckers - Algumas Reflexões sobre o Pensamento Metapolítico de Guillaume Faye

 por Robert Steuckers

(2024)


Conheci Guillaume Faye em Lille durante o inverno de 1975-1976. Em uma sala da metrópole da Flandres galicana, ele proferiu uma conferência sobre a independência energética da Europa. Um tema que sempre lhe foi caro, defendendo incansavelmente uma autarquia energética baseada principalmente na energia nuclear, como queria a França desde os anos 1960. A independência energética proporciona poder, palavra essencial em seu discurso, que permite escapar da submissão à hegemonia americana. Se há submissão e não poder, seguem-se o declínio, a decadência e a extinção. Possuir poder permite gerir, administrar e enfrentar a realidade. Faye sempre se declarou "realista e aceitante".

Mais tarde, especialmente a partir do ano fatídico de 1979 (e aqui explicarei por que foi fatídico), tivemos longas discussões sobre temas geopolíticos, geoestratégicos e geo-econômicos. Sobre outros temas também, claro. E sobre nossas lembranças de infância, de estudantes, de leitores. Ressalta-se que Faye foi aluno de um colégio de jesuítas em Angoulême, sua cidade natal. Lá adquiriu uma sólida formação greco-latina, a partir da qual, sem dizer, o que é uma pena, ele desenvolveu sua metapolítica original. Voltarei a isso.

01/05/2025

Alejandro Linconao - A Espiritualidade na Natureza

 por Alejandro Linconao

(2020)


O homem clássico se reconhecia como parte da natureza. Não entendia nada como estando fora do universo; nada de ordem material ou imaterial escapava a ele. Homens e Deuses, rochas e oceanos, as estrelas e o universo inteiro compartilhavam uma mesma morada. O reino dos mortos era um âmbito a mais dentro dele, assim como são os cumes das montanhas. O divino estava na natureza e não era externo a ela.

A natureza, segundo o pensamento clássico derivado de Hesíodo, era eterna e incriada, sempre existiu. Também Heráclito e Parmênides compreendiam o universo como incriado e imperecível. Não criado por nenhum deus ou homem, é eterno, sempre foi e sempre será (Heráclito, 1981, pp. 336-340). Mesmo outras cosmogonias, como a de Tales de Mileto ou Anaxímenes, que derivam o universo da água ou do ar, entendem que nada escapa ao natural.

27/04/2025

Alberto Buela - Notas sobre o Ressentimento

 por Alberto Buela

(2008)


Nestes dias, fala-se muito nos grandes meios de comunicação sobre o tema do ressentimento no agir político. E como já nos perguntaram várias vezes sobre o tema, tentaremos de forma breve e clara fixar algumas notas sobre o conceito mencionado. O ressentimento é um fenômeno complexo, baseado na consciência da própria incapacidade e fraqueza, principalmente quando essa incapacidade não permite realizar a vingança desejada. 

Sua importância na gênese da moral é que pode dar lugar a uma inversão da hierarquia de valores, julgando como superiores os valores que podem ser realizados e como desprezíveis os valores que são inacessíveis para o homem ressentido. Existe uma consciência de impotência diante dos valores verdadeiros. 

15/04/2025

Tibet Dikmen - O Pensamento Tradicionalista na Turquia

 por Tibet Dikmen

(2020)


É difícil dizer que o tradicionalismo tenha sido suficientemente discutido e difundido na esfera intelectual turca. Apesar de a maioria dos livros tradicionalistas importantes terem sido traduzidos para o turco, a consciência dessa corrente filosófica está bastante limitada a uma peculiar elite. Embora a maioria das obras de René Guénon, Frithjof Schuon, Seyyed Hossein Nasr, Martin Lings, Titus Burckhardt e Julius Evola ainda esteja sendo publicada pela editora İnsan Yayınları, muitos turcos ignoram como a escola tradicionalista é um movimento político-filosófico ativo, como os tradicionalistas estão conectados entre si, onde se estendem as veias grandes e pequenas que os alimentam e até onde chegam os vasos que se ramificam a partir delas.

05/04/2025

Jorge Torres Hernández - As Origens de São Jorge

 por Jorge Torres Hernández

(2021)


Indagaremos um pouco na origem deste famoso Santo. Já vos adianto que aqui não falaremos de dragões nem de princesas (embora no ícone bizantino que coloquei para ilustrar o artigo apareça o dragão), ao menos não inicialmente, pois a origem do Santo, padroeiro de inúmeros países, regiões e/ou cidades, devemos encontrá-la no Baixo Império Romano. Por sua vez, a popularidade de São Jorge é tamanha que podemos vê-lo reconhecido e adorado não apenas nas Igrejas Ocidentais, como a Católica ou as Protestantes, mas também no Oriente, com as diversas Igrejas Ortodoxas. E não apenas no âmbito do mundo cristão, já que este santo é um caso de sincretismo muito interessante, sendo também encontrado no Islã, onde é chamado por títulos como Al-Khidr (árabe cristão ou muçulmano) ou Mar Djiries (árabe cristão). Quero enfatizar isto, já que a religião maometana recolhe, absorve e incorpora diretamente das religiões abrahâmicas antecessoras uma grande quantidade de elementos. Podemos até encontrar o Santo em diversos ritos afro-americanos desenvolvidos pelas comunidades de escravos que os europeus trouxeram para a América, misturando-se com elementos religiosos trazidos da África e diversas crenças locais. A hagiografia de São Jorge estima que ele nasceu no final do século III d.C. (entre 275/280 d.C.) e morreu em 23 de abril do ano 303 d.C. Sabemos que seu pai pode ter sido um oficial do exército romano chamado Gerôncio, de origem grega, e sua mãe, Policrômia, de origem palestina. Após a morte do pai, provavelmente em algum conflito com os persas sassânidas, Policrômia voltou à sua cidade natal, Lida, também conhecida como Diospólis, sendo a atual cidade de Lod (Israel), onde o pequeno Jorge cresceu e, o mais importante, recebeu uma importante educação e formação cristã transmitida por sua mãe. Mais tarde, o próprio Jorge se alistaria no exército de Roma e começaria uma proveitosa carreira militar, que o levaria a ser Comes e Tribuno, chegando até à guarda pessoal do imperador Diocleciano.

25/03/2025

Nicolas Bonnal - Hugo e Nietzsche e o Encolhimento da Humanidade

 por Nicolas Bonnal

(2024)


 

Descobrimos Noventa e Três graças ao texto de um camarada espanhol; e essa sensacional tirada do verdadeiro herói do filme (sic), o marquês de Lantenac. Tudo isso nos lembra que Victor Hugo é um dos maiores gênios do mundo, e que O Homem que Ri, que inspirou o Coringa de Batman (nada menos), é o romance preferido de Ayn Rand e de todos aqueles que sonham com histórias fantásticas e expressionistas (revendo o Quinta-Feira de Chesterton e descobrindo a sensacional adaptação de Paul Leni, nos tempos heróicos do cinema mudo). Lantenac anuncia o essencial: a França vai se tornar pequena.


19/03/2025

Luca Valentini - Quando em Elêusis Dioniso renascia em Apolo

 por Luca Valentini

(2011)


A consciência, aquela de uma dimensão inteligível, de uma Unidade primária que não pode de forma alguma ser analisada nem considerada com as referências profanas da existência humana, ou seja, utilizando os parâmetros de tempo e espaço ou de volume, sempre assumiu consigo a ideia simbólica de uma queda, de um colapso, de um desmembramento, mas com uma consequente renascença, uma heróica afirmação de poder, de vontade dominadora que reconduz o múltiplo à Unidade primordial. Tais realidades tiveram como manifestação aristocrática o mundo um tanto quanto críptico, intencionalmente e significativamente oculto, dos Mistérios Antigos, que, através de suas muitas e diversificadas formas – desde os órficos aos egípcios, passando pelos mais celebrados de Elêusis, até os solares, imperiais e estatais de Mitra – e através dos diversos autores que nos legaram suas mitologias de base e as experiências vivas, embora limitadas pelo status iniciático e reservado dos próprios mistérios, explicitaram uma origem comum transcendente, uma referência arquetípica comum, portanto, um objetivo mágico-realizador semelhante. Não é casual, a estreita correlação mitológica que se pode instituir entre diferentes ramos da misteriosofia, que tinham diferentes divindades de referência, mesmo e sobretudo pelas diferentes tradições a que pertenciam, mas com funções simbólicas semelhantes, como, por exemplo, acontecia nas iniciações egípcias e nas eleusinas: “Dioniso também foi filho de Zeus, e teve como mãe Sêmele; ele foi o mesmo que Osíris entre os egípcios, e Baco entre os romanos; e por isso o chamarei indistintamente de Dioniso, Baco e Osíris” [1]. 

16/03/2025

Aleksandr Dugin - Sobre o Neopaganismo e o Satanismo da Ciência Moderna

 por Aleksandr Dugin

(2024)


 

O conceito de "pagão" tem origem no Antigo Testamento. Em russo, os "gentios" eram chamados de povos. Os judeus antigos usavam o termo "am" (עם) para descrever a si mesmos e "goy" (גוי) para descrever outras nações. Judeus = o povo, sendo um (escolhido), enquanto as “línguas” das nações são muitas. Assim, os judeus adoravam um único Deus e acreditavam que todas as outras nações (línguas) adoravam muitos deuses. Daí a identificação do termo “língua” (goy) com os politeístas idólatras (os gregos têm uma palavra semelhante, ειδολολάτρης). Em latim, o termo correspondente é gentilis, derivado de gēns, "povo", "clãs", "nações". Esse significado foi adotado pelos cristãos, e agora a oposição não era entre os judeus e todos os outros, mas entre as nações cristãs, que representavam a Igreja de Cristo, a "nação santa" (ὁ ἱερὸς λαὸς), e os povos e culturas que adoravam muitos deuses, chamados "pagãos". Na verdade, as próprias nações cristãs eram pagãs até aceitarem Cristo. E aquelas nações que não o aceitaram continuaram adorando muitos deuses (ειδολολάτρης).

07/03/2025

Naif Al Bidh - Pseudomorfose Cultural e a Tragédia da Alma Russa

 por Naif al Bidh

(2024)



Seguindo a biologia, a mineralogia é provavelmente a segunda disciplina mais influente na filosofia da história de Spengler. A partir dela, o autor toma emprestada a noção de pseudomorfose, um fenômeno em que um mineral sofre uma substituição total por um mineral estranho, o que eventualmente leva a uma formação falsa. Isso geralmente ocorre quando fissuras e fendas aparecem nas camadas, permitindo que a água infiltre e remova o cristal ou mineral original, deixando para trás apenas a forma do respectivo mineral. Após erupções vulcânicas, o magma permeia as rachaduras e eventualmente cristaliza em novos minerais, resultando em uma formação falsa, onde a forma do mineral original permanece, mas é substituída por um mineral estranho. O resultado final é uma forma distorcida, onde a estrutura interna não tem nenhuma ligação orgânica com a forma externa. A partir disso, Spengler cunha o termo "pseudomorfose histórica" para descrever casos em que uma cultura madura sobrepuja uma cultura mais jovem de maneira hegemônica, a tal ponto que a cultura emergente luta para crescer e realizar seu potencial, propósito, destino e alma. O tema da tragédia desempenha um papel crucial dentro da narrativa de Spengler, e provavelmente não há outro conceito que reflita melhor esse elemento trágico nos escritos de Spengler do que a noção de pseudomorfose, como iremos demonstrar. Também é importante acrescentar que, através de sua concepção de pseudomorfose, Spengler reafirma sua posição como um historiador que rejeita qualquer abordagem eurocêntrica da história mundial, adotando uma posição de relativismo cultural. Finalmente, a beleza da pseudomorfose histórica é que ela encarna a simpatia que Spengler possuía por muitas culturas não ocidentais, uma vez suprimidas pelas correntes hegemônicas de uma cultura estrangeira mais antiga, agarrada à vida por desespero.

05/03/2025

Pierre Le Vigan - Heidegger: O Médico da Modernidade

 por Pierre Le Vigan

(2024)


Heidegger (1889-1976) continua no centro das preocupações do nosso tempo. O livro de Baptiste Rappin Heidegger et la question du management – um gestor que vai muito além do mundo empresarial – é uma prova disso. Assim como a influência de Heidegger no pensamento do falecido Pierre Legendre ou em Michel Maffesoli. Em outras palavras, Heidegger é inatual, o que lhe permite continuar sendo atual. O padre jesuíta William John Richardson (1963) distinguiu um primeiro Heidegger, até 1927, com a publicação de Ser e Tempo, de um segundo Heidegger, posterior a 1927. Essas periodizações não são inúteis, pois indicam uma mudança de perspectiva, principalmente porque Ser e Tempo está inacabado, e Heidegger considerou mais prudente modificar seu ângulo de visão, em vez de tentar completá-lo a partir de uma posição que já não era inteiramente sua. Foi o clássico passo ao lado que os grandes intelectuais deram. No entanto, uma mudança de perspectiva não exclui a constância de alcançar o mesmo objetivo. Esse objetivo é pensar sobre o que, em termos “acadêmicos”, chamamos de diferença ontológica. Em termos mais correntes, é o abismo, a "boca da sombra", a ameaça do nada, a consciência da presença do nada e o dever singular de encará-la sem se afundar nela. Como nos lembra Antoine Dresse, os antimodernos são frequentemente tão modernos que não têm ilusões sobre os ideais da modernidade. O que caracteriza Heidegger é seu repúdio ao niilismo, sem negar por um momento a realidade de sua ameaça.